200 anos da Independência e o voto feminino

Uma data que marca 200 anos de algo como a criação de uma nação talvez merecesse um ano de comemorações, exposições, debates e assim vai. Ou, pelo menos, uma festa cívica. Mas o que vimos no Bicentenário da Independência do Brasil foi um grande palanque eleitoral.

Diferente do 7 de setembro de 2021, o discurso do candidato Jair Bolsonaro esse ano foi menos radicalizado. O ataque às instituições foi sutil.

Aparecem na afirmação de que o Brasil conhece o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Aparecem na crítica indireta feita a partir da presença de Luciano Hang (alvo de mandado de buscas e apreensões) ao lado de Bolsonaro, deslocando o presidente de Portugal, colocando Hang na posição que tradicionalmente é reservada a chefes de Esta

Bolsonaro atendeu aos apelos dos organizadores da sua campanha: não falou sobre desrespeitar as decisões do STF, tampouco sobre possíveis fraudes no processo eleitoral; não colocou em pauta um possível golpe contra a democracia.

Atuou para garantir votos além dos seus apoiadores mais radicais. Mas também não deixou de animar sua plateia. Os animou com pausas eloquentes, que permitiam à plateia falar o que o candidato foi recomendado a não dizer. E gerou belas fotos de uma grande massa de apoiadores em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em especial, os animou ao ac

A fala do candidato foi separada da posição de chefe do Estado apenas pela retirada da faixa presidencial e pela distância de algumas centenas de metros entre o carro de som e o palanque das autoridades no desfile cívico-militar. Bolsonaro ressaltou o que os organizadores da sua campanha entendem que gera votos. Falou sobre corrupção e ressaltou o papel das mulheres, através da Michelle Bolsonaro.

O tom elogioso que visa suavizar o caráter do discurso do candidato que desagrada às mulheres se dissolve quando usa o termo “princesa”, que causa reação em sua esposa. E depois pelo constrangimento que causa à mesma, ao sugerir o verdadeiro papel dela em sua vida, convocando a multidão a uma ode à virilidade do presidente.

A ausência dos chefes dos demais Poderes informa a desconfiança das instituições no candidato Bolsonaro. Nem mesmo o presidente da Câmara, Arthur Lira, apoiador de primeira hora do presidente, compareceu, o que, por sua vez, revela que a proximidade com Bolsonaro não tem o mesmo resultado eleitoral que teve em 2018.

Os Poderes da República abriram mão do dia 7 e comemoram os 200 anos da Independência no dia 8 de setembro, em uma sessão solene do Congresso Nacional. Aí sim, com a presença de diversas autoridades internacionais, incluindo o presidente de Portugal e de outras ex-colônias portuguesas, dos presidentes da Câmara dos Deputados, Congresso Nacional, pr

Mas o que o 7 de setembro diz sobre as eleições? Na reta final, as pesquisas de opinião têm mantido certa estabilidade e podem desmotivar a militância dos candidatos que não estão em primeiro. Podem inclusive, incentivar o voto útil, provocando reposicionamento dos eleitores dos demais candidatos entre os dois mais bem colocados nas pesquisas.

Isso poderia implicar no encerramento da disputa no primeiro turno, a depender da opção destes eleitores. Assim, a estagnação de Bolsonaro nas pesquisas poderia ter um efeito negativo nesta reta final da campanha.

O 7 de setembro resultou em boas imagens para a campanha de Bolsonaro, uma imagem de subordinação das Forças Armadas e outra de uma grande multidão. A ausência dos ataques à democracia, se não gera votos, não espanta os indecisos.

Mas, se um dos objetivos era convencer o eleitorado feminino, esse não deve se cumprir. A humilhação de Michelle Bolsonaro no palanque não parece ser atrativa para este público, que é essencial para vitória nas urnas.

As pesquisas de hoje e da próxima semana devem mostrar os resultados da fala do presidente sobre a intenção de voto das mulheres, apresentando um quadro mais claro sobre o rumo das eleições.

*Andréa Freitas é professora do Departamento de Ciência Política do IFCH-Unicamp e coordenadora do Núcleo de Estudos das Instituições Políticas e Eleições – Nipe/Cebrap

Por: Valor Econômico

 

 

 

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