Apesar de alta de alimentos, inflação segue “benigna”, dizem analistas

O comportamento da inflação no Brasil segue “benigno” e, pelo menos por enquanto, não há grandes motivos de preocupação para os próximos meses, apesar da alta no preço dos alimentos entre setembro e outubro.

A avaliação é de economistas e agentes do mercado ouvidos nesta sexta-feira (10/11) pela reportagem do Metrópoles, após a divulgação dos dados de inflação no país pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o levantamento, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, desacelerou para 0,24% no mês passado, depois de ter ficado em 0,26% em setembro.

No acumulado de 12 meses, até outubro, a inflação oficial do país foi de 4,82%. No ano, a inflação acumulada é de 3,75%.

O resultado veio abaixo das estimativas dos analistas. O consenso Refinitiv, que reúne as principais projeções do mercado, previa inflação mensal de 0,29% e, no acumulado de 12 meses, um índice de 4,87%.

Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é 3,25%. Como há intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%.

Os preços de oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta em outubro. Transportes (0,35%) e alimentação e bebidas (0,31%) contribuíram, cada um, com 0,07 ponto percentual para o índice geral.

“A baixa média dos núcleos, em conjunto com os serviços subjacentes em patamar historicamente baixo, reforça um cenário desinflacionário mais consistente”, afirma Igor Cadilhac, economista do PicPay.

“Eventuais riscos de baixa seguem vindo, principalmente, do bom contágio dos preços de bens sobre os demais; do comportamento dos núcleos e sua inércia; e do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora. Do outro lado, temos monitorado o mercado de commodities, sobretudo o petróleo, com a possibilidade de escalada dos conflitos pelo mundo, além dos aumentos salariais e dos eventuais efeitos do El Niño sobre as safras de 2023/2024”, prossegue o economista.

Alimentação acende alerta

Segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o aumento de preços do segmento de alimentação (de -071% para 0,31% entre setembro e outubro) chama atenção e acende um alerta.

“O custo da alimentação em domicílio, que vinha de quatro deflações seguidas, registrou alta de 0,27% em outubro. Acreditamos que o ciclo de queda de preços desse grupo tenha chegado ao fim e que, daqui para a frente, os preços da alimentação em domicílio voltem a pressionar o IPCA para cima”, analisa.

“A composição do IPCA mostra uma desaceleração da inflação dos núcleos do Banco Central (0,26%) e de bens industriais (0%), que vieram abaixo da nossa projeção. Já a inflação de serviços veio em linha (0,59%) com nossa previsão. Em 12 meses, a inflação de bens industriais acumula uma alta de 2,7% e a dos núcleos do BC, de 4,7%, menores que os 3,4% e 5%, respectivamente, medidos até setembro, mostrando uma trajetória de desaceleração”, destaca Moreno.

A economista do C6 alerta também para a inflação de serviços, que “continua se mostrando resiliente, acumulando uma alta 5,5% em 12 meses”. “Não acreditamos que os preços desse grupo caiam significativamente por causa do mercado de trabalho aquecido”, afirma.

Para Maykon Douglas, economista da Highpar, o resultado do IPCA em outubro “corrobora a atenuação de fatores que outrora contribuíram para o primeiro estágio de desinflação (concentrado em itens mais voláteis), como bens industriais e alimentos”.

“No caso dos alimentos, não se trata de uma escalada de preços como a que vimos nos dois últimos anos. Os itens subjacentes, que importam mais no momento à política monetária, seguem em desinflação e vieram comportados novamente. Ou seja, apesar do que vimos nos alimentos, o qualitativo segue benigno”, avalia.

 

Por Metrópoles

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