Gesto de Múcio aos militares gera indignação de ativistas

As declarações do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, geraram uma forte reação por parte da comunidade de direitos humanos. Nesta semana, em entrevista à Bandnews, o chefe da pasta manifestou a intenção de buscar “uma consonância” com os militares em relação ao golpe do dia 31 de março, de 1964. O comportamento levou o Instituto Vladimir Herzog a publicar uma nota na qual repudia a declaração e aponta como a data é marcada “pela deflagração do golpe de Estado de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura no Brasil”.

“Qualquer tentativa revisionista dessa data é inaceitável”, disse a entidade. “Os atentados do último dia 8 de janeiro contra o Estado Democrático de Direito em nosso país tornaram explícito um dos principais desafios que temos pela frente: o de fortalecer a democracia a partir dos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) instituídos pela Constituição Cidadã de 1988” afirmou.

Ao longo dos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, a data se transformou em um gesto de afronta da administração contra as vítimas da ditadura e contra a própria democracia. Em carta para a ONU, o governo Bolsonaro chegou a negar a existência do golpe de 1964, enquanto o ex-presidente chocou a região ao elogiar ditadores como Augusto Pinochet e Alfredo Stroessner. A esperança de grupos de direitos humanos era de que haveria uma ruptura clara com o fim do governo Bolsonaro em relação à data de 31 de março. Não por acaso, a declaração do novo ministro causou preocupação por parte de ativistas.

Para o Instituto Vladimir Herzog, alguns princípios precisam ser estabelecidos: As Forças Armadas não constituem um poder. Não compete à instituição emitir opinião sobre rumos políticos do país.? As Forças Armadas são uma instituição de Estado, formada por homens e mulheres a serviço da cidadania, cujo principal objetivo é a defesa nacional. São mantidas pelo contribuinte e compete à elas defender o povo brasileiro – e não aterroriza-lo.

Em uma democracia, um ministro da defesa não pode e não deve ser complacente com a cúpula de uma instituição que, em pleno século XXI, insiste em defender um regime marcado por graves violações de direitos humanos.

Na avaliação da entidade, o 31 de março de 1964 “deve ser lembrado por aquilo que foi: a inauguração de um regime de terror, que naturalizou a tortura e deixou um legado de mortes e desaparecimentos forçados – muitas de suas vítimas lutaram pela volta da democracia em nosso país”. O Instituto Vladimir Herzog afirma reconhecer “as complexidades que vivemos no Brasil de 2023 e os esforços do atual governo, eleito democraticamente, para fortalecer nossas instituições”.

“Contudo, não é possível aceitar qualquer tentativa de celebração da infame efeméride de 31 de março. A data deve ser lembrada em memória das vítimas da ditadura militar, em uma sociedade que ainda espera por justiça”, disse. “Não podemos repetir o passado. Responsabilização já. Sem anistia. Democracia hoje e sempre”, completou.

 

Por Uol Notícias

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