Governo avalia criar meta para reservas internacionais

O governo federal avalia a criação de uma meta para reservas internacionais que teria o objetivo de dar “previsibilidade” para o câmbio, segundo integrantes da equipe econômica que participam das discussões. Esses ativos, administrados pelo Banco Central (BC), somam atualmente US$ 339,6 bilhões e são uma espécie de seguro do país contra crises, servindo também para conter oscilações atípicas do real em relação ao dólar.

A ideia em discussão no governo é tentar estabelecer uma meta para o total de reservas do país e fixar bandas de oscilação para o total de recursos disponíveis. Nesse cenário, se o valor estiver acima do teto da meta, o BC deverá reduzir o montante. Caso esteja abaixo, deverá comprar ativos.

Os estudos sobre qual seria o valor da reserva e também as bandas de oscilação estão sendo conduzidos pela Secretaria de Política Econômica e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As discussões ocorrem em um momento em que o dólar atinge a máxima em duas décadas, um cenário que pode se prolongar em 2023, e gera pressão sobre a inflação.

Técnicos do governo negam que o plano para criar metas de reservas seja uma intervenção no câmbio e argumentam que é necessário dar previsibilidade para a gestão desses recursos. Outro argumento é de que, mesmo autônomo, o BC pode servir de instrumento para influenciar na cotação do dólar.

Por isso, ainda de acordo com integrantes do governo, seria necessário o BC perseguir uma meta de reservas para garantir que o câmbio fique em equilíbrio e apresente previsibilidade para o mercado.

O objetivo é incluir a proposta de meta de reserva junto com outra: a meta para a dívida pública, que também está em análise pelo Ministério da Economia e que o Tesouro Nacional espera colocar em consulta pública ainda neste mês. De toda forma, a tendência é que qualquer ideia nesse sentido só seja encaminhada ao Congresso após as eleições.

A meta para reservas já estaria sendo estudada desde a época em que o Congresso discutia a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso em 2021. Naquela época, o governo optou por não misturar as duas discussões para garantir a tramitação do projeto. Procurado, o BC disse que não comentaria o assunto.

Integrantes da equipe econômica dizem que o objetivo das mudanças é fortalecer o tripé macroeconômico, composto pelo regime de metas de inflação, metas fiscais e pelo câmbio flutuante. Contudo, ex-integrantes do Banco Central ouvidos pelo GLOBO afirmam que não há experiência parecida no mundo e temem que o objetivo seja, na prática, exercer influência sobre a cotação do dólar. Esses economistas afirmam, também, que já há previsibilidade sobre reservas e que quem coloca uma meta para elas é o próprio mercado.

Por: O Globo

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