Petrobras deve usar crise para diversificar exportações de petróleo

RIO – A Petrobras já vem recebendo diversas consultas para exportar petróleo para países europeus, grupo que hoje responde por apenas 15% dos embarques, atrás da América Latina (23%) e China (38%). A estatal tem um volume excedente de 500 mil a 600 mil barris diários de petróleo.

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De acordo com fontes do setor, a Petrobras já trabalha com algumas alternativas como aumentar a exportação de seu petróleo do pré-sal — que tem baixo teor de enxofre, e é considerado de boa qualidade no mercado internacional por ser mais “leve”— para a Europa, e importar petróleo mais barato, com alto teor de enxofre, tido como “mais pesado”.

Assim, explicou essa fonte na estatal, a ideia é garantir o abastecimento do mercado interno e permitir um ganho financeiro neste momento, mas dentro dos limites técnicos e de segurança operacional da estatal.

Esse executivo lembrou também que as negociações estão ocorrendo de forma diária e são feitas com base no preço de mercado (spot). Por isso, uma das alternativas seria deslocar parte do petróleo que iria para EUA e China, mas “de forma cautelosa”. Os EUA representam 9% dos embarques de petróleo da Petrobras.

Como as conversas ainda estão em andamento, a companhia mantém as negociações em aberto, observando as consequências para o mercado caso os Estados Unidos voltem a comprar petróleo de países como Venezuela e Irã.

A estatal analisa ainda se há risco de a China passar a comprar mais petróleo da Rússia. Além da China, outros países da Ásia compram 15% do petróleo da Petrobras. Segundo essa fonte, o mercado pode passar por “grandes mudanças a curto prazo”.

Outra preocupação do alto escalão da Petrobras é o volume de importação de petróleo, GNL (gás natural liquefeito, em estado líquido) e óleo combustível.

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De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os EUA são um dos principais fornecedores energéticos do Brasil, respondendo por cerca de metade do GNL e óleo combustível comprados pelo Brasil, além de ser o segundo maior exportador de petróleo para cá, atrás da Arábia Saudita.

Pré-sal para exportar

Essa fonte destacou que “todo o cenário será levado em conta” antes de movimentos maiores. A fonte lembrou que o período entre a compra e a entrega de petróleo leva cerca de 60 dias. Dentro da estatal, uma corrente acredita que este pode ser o momento ideal para que a companhia diversifique suas exportações, hoje concentradas na Ásia.

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Por isso, a companhia vai usar os campos de pré-sal, que são considerados de boa qualidade no mercado internacional, para diversificar os destinos de exportação, frisou a fonte. Esse executivo lembrou que os campos usados para exportação são, principalmente, os de Búzios, Atapu e Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos.

Segundo essa fonte, a estratégia é que o desenvolvimento de novos mercados para o petróleo do pré-sal seja um fator “para o aumento da geração de valor nas exportações de petróleo”. Assim, explicou a fonte, é possível buscar mercados que pagam mais pelo petróleo.

Em 2021, as exportações de petróleo e derivados da Petrobras somaram cerca de 811 mil barris por dia, uma queda de 15% em relação ao ano anterior devido à maior demanda no Brasil e à redução na produção nacional por conta de paradas programadas.

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Os embarques somam cerca de 30% da produção total da estatal, que chegou a 2,7 bilhões de barris no ano passado.

Segundo Marcio Balthazar, sócio da consultoria NatGas Economics, a Europa já está se movimentando e buscando novos fornecedores. Para ele, os países não vão simplesmente cortar o fornecimento da Rússia sem ter um boa alternativa na mesa:

—A Europa está buscando diversificação para ampliar sua capacidade de importação. E por isso os países exportadores entram na mira.

Alta de vendas ao exterior

Segundo a AEB, a China é o principal destino de petróleo bruto brasileiro (o que inclui todas as petroleiras), somando 41,4% do total. Em seguida aparecem EUA (12,1%), Chile (7,6%), Espanha (7,1%), Portugal (7%) e Coreia do Sul (6,9%), com dados de fevereiro, o último disponível.

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—Nos dois primeiros meses deste ano, a exportação de petróleo do Brasil em volume subiu 40%. O mesmo ocorreu com óleo combustível, cujo volume embarcado teve alta de 224%. E isso tudo ocorreu em um momento de alta nos preços, cuja tendência é de aumento. Teoricamente, o aumento nos preços traz oportunidades de mercado com os possíveis embargos — disse José Augusto de Castro, presidente-executivo da AEB.

Em nota, a Petrobras disse “que o excedente de petróleo exportável da Petrobras está na média de 500 mil a 600 mil barris/dia. A Petrobras atua globalmente buscando sempre os mercados que valorizem os seus óleos”. Lembrou que “até o momento” o portfólio de compradores da estatal permanece similar ao historicamente observado.

 

Por O Globo

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