A onda de dengue no Brasil e no restante do mundo pode piorar nos próximos anos, impactada pelas mudanças climáticas. O alerta é do Painel Integovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) que, nos últimos anos, constatou a relação entre as temperaturas no planeta e a expansão geográfica da doença.
O órgão da ONU, em seu informe de 2022, foi contundente: se nada for feito para frear a transformação climática, 5 bilhões de pessoas extras estarão vivendo em regiões do mundo onde poderão ser suscetíveis à doença. Hoje, ela é presente em áreas onde habitam 3 bilhões de pessoas.
Ainda que a população mundial em crescimento tenha um impacto nessa previsão, o principal fator é a expansão das condições propícias para a sobrevivência do vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypt.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, afirmou nesta quarta-feira no Brasil que o surto de dengue era um fenômeno global e que o problema, em 2023, havia atingido números significativos.
Mas, para o IPCC, o cenário pode ficar ainda mais grave. “Espera-se que as mudanças climáticas aumentem o risco de dengue e facilite sua disseminação global, com o risco sendo maior em cenários de altas emissões” aponta o informe de mais de 3 mil páginas.
“O risco de dengue aumentará com estações mais longas e uma distribuição geográfica mais ampla na Ásia, Europa, América Central e do Sul e África Subsaariana, podendo colocar bilhões de pessoas adicionais em risco até o final do século”, afirma o IPCC, apontando como o Aedes aegypti se deslocará para altitudes mais elevadas, aumentando as populações em risco.
“A exposição futura ao risco será influenciada pelos efeitos combinados da mudança climática e de fatores não climáticos, como a densidade populacional e o desenvolvimento econômico”, destaca o texto, citando dezenas de estudos.
De um modo geral, espera-se que os níveis de risco aumentem em todos os continentes.
Em comparação com 2015, projeta-se que 1 bilhão de pessoas extras estarão em risco de exposição à dengue até 2080, em um mais positivo. Esse número sobe para 2,2 bilhões em um cenário intermediário. E, no pior dos cenários, 5 bilhões de pessoas extras seriam afetadas.
O impacto seria sentido em todas as regiões:
De acordo com o IPCC, a “duração e a taxa de sobrevivência do desenvolvimento do mosquito da dengue, a densidade do mosquito, a atividade de picada do mosquito, o alcance e a distribuição espaço-temporal do mosquito e a distância de voo do mosquito são todos afetados pela temperatura.
“A temperatura, a precipitação, a umidade e a pressão do ar são os principais fatores climáticos associados à transmissão da dengue”, constata.
Colonizando novas áreas
Segundo os especialistas do IPCC, a dengue não é a única a potencialmente migrar para novas regiões do mundo.
A mudança climática está possibilitando que muitas doenças colonizem áreas historicamente mais frias que estão se tornando mais quentes e úmidas.
Um dos exemplos citados é o dos carrapatos que carregam o vírus que causa a encefalite e que se mudaram para as regiões subárticas do norte da Ásia e da Europa. “Vírus como o da dengue, chikungunya e encefalite japonesa estão surgindo no Nepal, em áreas montanhosas e de colinas. Novos surtos de envenenamento por frutos do mar causados pela bactéria Vibrio estão sendo rastreados até os Estados Bálticos e o Alasca, onde nunca foram documentados antes”, aponta.
“As mudanças climáticas também podem ter efeitos complicados, combinados e contraditórios sobre patógenos e vetores”, afirma.
“O aumento da precipitação cria mais habitat para os mosquitos que transmitem doenças como a malária, mas o excesso de chuva leva à destruição desse habitat”, aponta. Mas a diminuição das chuvas também aumenta o risco de doenças quando as pessoas sem acesso confiável à água usam recipientes para armazenar água onde os mosquitos, como os vetores da dengue Aedes aegypti, depositam seus ovos.
“As temperaturas mais altas também aumentam a taxa de picadas de mosquito, o desenvolvimento de parasitas e a replicação viral”, alerta o IPCC.
Nada disso é novo. Segundo os especialistas, desde 1950, “o ônus global da dengue cresceu e pode ser atribuído a uma combinação de expansão associada ao clima na área geográfica das espécies de vetores e a fatores não climáticos, como tráfego aéreo globalizado, urbanização e medidas ineficazes de redução de vetores”.
“As variáveis de temperatura, umidade relativa e precipitação pluviométrica estão associadas de forma significativa e positiva ao aumento da incidência de casos de dengue e/ou às taxas de transmissão em todo o mundo, inclusive no Vietnã. Índia, Indonésia, Filipinas, EUA ou Jordânia”, completa.
Por Uol Notícias
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