UE pede prioridade à indústria interna no esforço de se rearmar

Um estudo apresentado nesta quarta-feira (18) por altos funcionários da União Europeia (UE) pede a priorização da indústria doméstica no esforço de rearmar o bloco, após o “despertar brutal” provocado pela guerra na Ucrânia. Um relatório apresentado pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, e pelo comissário da Indústria, Thierry Breton, aponta que a Europa está “desarmada há anos” e está em situação crítica com o retorno da guerra na região.

O estudo da Comissão Europeia aponta que o gasto na defesa entre os países da UE aumentou 20% entre 1999 e 2021, embora, neste período, cresceu 60% nos Estados Unidos, 292% na Rússia e 592% na China. Assim, o início da guerra na Ucrânia foi um verdadeiro choque: os países europeus usaram suas reservas para fornecer armas à Ucrânia e muitos governos aumentaram seus orçamentos de defesa.

Este estudo foi solicitado pelos líderes europeus em fevereiro, durante uma reunião em Versalhes. As conclusões do documento serão discutidas na cúpula marcada para os dias 30 e 31 de maio.

Rearmamento em andamento

“O rearmamento maciço está em andamento”, destacou a Comissão Europeia em seu relatório: os Estados-membros da UE anunciaram compromissos de quase 200 bilhões de euros. Tradicionalmente muito reticente em termos de defesa, a Alemanha aumentará seus gastos para 2% do seu PIB e pretende lançar um fundo excepcional dotado de 100 bilhões de euros.

Em geral, os países da Otan – 21 deles, também membros da UE – se comprometeram a dedicar 2% de seu PIB aos gastos com defesa em 2024. No entanto, apenas oito o fizeram: Estados Unidos, Reino Unido e seis países europeus (Polônia, Grécia, Estônia, Lituânia, Letônia e Croácia).

Nesse cenário, três emergências foram identificadas: o reabastecimento dos estoques de munições e armas, esgotados pelos envios à Ucrânia; capacidades de defesa antiaérea e a substituição de equipamentos herdados da era soviética. Os Estados Unidos já começaram os movimentos para equipar seus aliados europeus, fornecendo sistemas de defesa aérea Patriot para substituir os sistemas russos S-300 na Ucrânia.

“Devemos nos livrar do equipamento soviético, mas não podemos cair em uma dependência não europeia”, disse um funcionário europeu.

Tabu quebrado

Para Breton, “é urgente investir juntos, melhor e na Europa”.

A Comissão propõe a criação de incentivos financeiros com o orçamento comum para apoiar os industriais da UE. Um alto funcionário disse promover uma “preferência europeia”. Se os líderes europeus aceitarem a ideia, será criado um instrumento dotado de 500 milhões de euros para o período 2023-2024 para compras “muito direcionadas” de armas.

Numa fase posterior, será utilizado o financiamento de compras em grupo.

“Estamos quebrando um tabu, porque a UE está proibida de utilizar o orçamento comum para financiar operações militares”, explica a fonte europeia.

O Fundo Europeu para a Paz, usado para financiar a compra e entrega de armas à Ucrânia, foi criado pelos Estados do bloco por fora do orçamento comum, e a decisão de usá-lo para ajudar a Ucrânia deve ser tomada por unanimidade. Este fundo foi dotado de cerca de 5 bilhões de euros, e desse total, 2 bilhões já foram alocados para financiar a compra de armas para a Ucrânia desde o início do conflito, em fevereiro.

Esse dinheiro é usado para reembolsar os Estados-membros pelas armas retiradas de seus estoques. “Temos recursos suficientes para 2022”, assegurou Borrell. Mas será necessário mais dinheiro se o conflito continuar além do final do ano.

“Se os Estados-membros decidirem entregar dinheiro, será possível aumentar sua alocação”, explicou, embora os estoques europeus precisem ser reabastecidos.

 

Por Uol Notícias

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